segunda-feira, 13 de julho de 2015

CICLOS VITAIS - INTERESSANTE


CICLOS VITAIS



Principais desenvolvimentos

nos oito períodos do ciclo de vida



Faixa etária

Estágio pré-natal (concepção até nascimento)

Primeira infância (nascimento até 3 anos)

Segunda infância (3 a 6 anos)

Terceira infância (6 a 12 anos)

Adolescência (12 a 20 anos)

Jovem adulto (20 a 40 anos)

Meia-idade (40 a 65 anos)

Terceira idade (65 anos em diante)


ESTÁGIO PRÉ-NATAL  (CONCEPÇÃO ATÉ NASCIMENTO)



PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Formação da estrutura e órgãos corporais básicos.

O crescimento físico é o mais rápido de todos os períodos

Grande vulnerabilidade às influências ambientais.


PRIMEIRA  INFÂNCIA  (NASCIMENTO ATÉ 3 ANOS)



 PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

O recém-nascido é dependente porém competente.

Todos os sentidos funcionam no nascimento.

Crescimento físico e desenvolvimento das habilidades motoras são rápidos.

Capacidade de aprender e lembrar está presente, até mesmo nas primeiras semanas de vida.

Compreensão e fala se desenvolvem rapidamente.

Autoconsciência se desenvolve no segundo ano.

Apego aos pais e a outros se forma aproximadamente no final do primeiro ano de vida.

Interesse por outras crianças aumenta.


SEGUNDA  INFÂNCIA  (DE 3 A 6 ANOS)



  PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Força e habilidades motoras simples e complexas aumentam.

Comportamento é predominantemente egocêntrico, mas a compreensão da perspectiva dos outros aumenta.

Imaturidade cognitiva leva a muitas idéias ilógicas acerca do mundo.

Brincar, criatividade e imaginação tornam-se mais elaborados.

Independência, autocontrole e cuidado próprio aumentam.ØØ

Família ainda é o núcleo da vida, embora outras crianças comecem a se tornar importantes.


TERCEIRA  INFÂNCIA  (DE 6  A 12 ANOS)



 PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Crescimento físico diminui.

Força e habilidades físicas se aperfeiçoam.

Egocentrismo diminui.

Crianças passam a pensar com lógica, embora predominantemente concreta.

Memória e habilidades de linguagem aumentam.

Ganhos cognitivos melhoram a capacidade de tirar proveito da educação formal.

Auto-imagem se desenvolve, afetando a auto-estima.

Amigos assumem importância fundamental.


ADOLESCÊNCIA  (DE 12  A 20 ANOS)



  PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Mudanças físicas são rápidas e profundas.

Atinge-se a maturidade reprodutiva.

Capacidade de pensar abstratamente e usar o pensamento científico se desenvolve.

Egocentrismo adolescente persiste em alguns comportamentos.

Busca de identidade torna-se fundamental.

Grupos de amigos ajudam a desenvolver e testar a auto-imagem.

Relacionamento com os pais geralmente é bom.


ADULTO  (DE 20  A 40 ANOS)



 PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Saúde física atinge o máximo, depois cai ligeiramente.

Habilidades cognitivas assumem maior complexidade.

Decisões sobre relacionamentos íntimos são tomadas.

A maioria das pessoas se casa; a maioria tem filhos.

Escolhas profissionais são feitas.


MEIA- IDADE  (DE 40 A 65 ANOS)



 PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Ocorre certa deterioração da saúde física, e declínio da resistência e perícia.

Mulheres entram na menopausa.

Sabedoria e capacidade de resolução de problemas práticos são acentuadas; capacidade de resolver novos problemas declina.

Senso de identidade continua a se desenvolver.

Dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e pais idosos pode causar estresse.

Partida dos filhos tipicamente deixa o ninho vazio.

Para alguns, sucesso na carreira e ganhos atingem o máximo; para outros ocorre um esgotamento profissional.

Busca do sentido da vida assume importância fundamental.

Para alguns, pode ocorrer a crise da meia-idade.


TERCEIRA IDADE  (DE 65 ANOS EM DIANTE)



  PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

A maioria das pessoas é saudável e ativa, embora a saúde e a capacidade física declinem um pouco.

Retardamento do tempo de reação afeta muitos aspectos do funcionamento.

A maioria das pessoas é mentalmente ativa.   Embora a inteligência e a memória possam se deteriorar  em algumas áreas, a maioria das pessoas encontra modos de compensação.

Aposentadoria pode criar mais tempo para o lazer mas pode diminuir as rendas.

As pessoas precisam enfrentar perdas em muitas áreas (perdas de suas próprias faculdades, perda de afetos) e a iminência de sua própria morte.



LIVRO CICLO DA VIDA



Gestação, Parto e Puerpério

O Bebê e os Pais

O Ciclo Vital da Família

A Criança de 0 a 3 anos

A Criança Pré-Escolar

A idade Escolar: Latência (6 a 12 anos)

A Puberdade

A Adolescência

Adultos Jovens, seus Scripts e Cenários

Idade Adulta: Meia-Idade

A Velhice

A Morte: Última Etapa do Ciclo Vital

O  NEURÔNIO

O  neurônio  é  a  unidade  funcional  do  cérebro.

Um neurônio pode receber milhares de conexões sinápticas  de outros neurônios, uma vez que o cérebro humano apresenta, aproximadamente, 10 neurônios.

Calcula-se que o número total de genes do DNA humano chegue a 100.000.    Desses, talvez 50.000 sejam funcionais exclusivamente no cérebro, o que sugere  a  enorme complexidade  do  controle genético  sobre  o  cérebro  e  seu  desenvolvimento.



Estágios



I. Sensório-Oral (Infância)

II. Anal-Muscular

III. Genital-Locomotor

IV. Latência (Idade escolar)

V. Puberdade e Adolescência

VI. Adulto Jovem

VII. Adulto



Crise  Psicossocial



Confiança Básica X Desconfiança

Autonomia X Vergonha, Dúvida

Iniciativa X Inferioridade

Atividade X Inferioridade

Identidade X Confusão de Identidade

Intimidade X Isolamento

Generatividade X Estagnação

Integridade de Ego X Desespero



MECANISMOS  DE  DEFESA

 I -   Defesas  Narcísicas

Negação: evitar a percepção de algum aspecto doloroso da realidade, negando dados sensoriais. Afeta mais a percepção da realidade externa do que da realidade interna.  Não é necessariamente psicótica, podendo estar a serviço de objetivos adaptativos ou neuróticos.

 Projeção: perceber e reagir a estímulos internos inaceitáveis e seus derivados como se estivessem fora do self  (eu).  Pode levar a delírios francos sobre a realidade externa, usualmente de cunho persecutório; inclui tanto a percepção de seus próprios sentimentos em outros como agir em função dessa percepção.

Distorção: reformular grosseiramente a realidade externa no sentido de enquadrá-la aos desejos internos, podendo incluir crença irreal megalomaníaca, alucinações e delírios, utilizando sentimentos delirantes de superioridade ou autoridade.

II - Defesas  Imaturas

 Atuação (acting-out): expressão direta de um desejo ou pulsão inconsciente para evitar a consciência do afeto associado a eles.  A fantasia inconsciente é vivida de modo impulsivo, gratificando mais o impulso do que a sua proibição.   Inclui agir para evitar a tensão que resultaria se o impulso fosse postergado.

Bloqueio:  inibição usualmente temporária dos afetos, pensamentos ou impulsos.

Hipocondria: transformação da censura alheia em autocensura e queixas de dor e enfermidade somática, como conseqüência de privação, solidão ou pulsões agressivas inaceitáveis.

Introjeção: internalização das características de um objeto amado, visando a aproximar-se deste e manter sua presença.   A introjeção de um objeto temido, pela internalização das suas características agressivas, leva a um controle da agressão.

Comportamento passivo-agressivo: agressão para com o objeto, manifestada de forma indireta e ineficaz por meio de passividade, masoquismo e voltando-se contra si mesmo.

 Projeção: atribuição aos outros dos próprios sentimentos inaceitáveis. Inclui preconceitos, rejeição, suspeita, excessiva cautela contra perigos externos, etc.

 Regressão: retorno a um estágio anterior do desenvolvimento devido à dificuldade de enfrentar as ansiedades e desafios atuais. Inclui um retorno a pontos de fixação primitivos e incorporação de comportamentos já abandonados.

 Somatização: conversão defensiva de derivados psíquicos em sintomas corporais

III - Defesas Neuróticas

Controle: tentativa exagerada de manejar ou regular os acontecimentos ou o ambiente externo com o objetivo de minimizar a ansiedade e resolver conflitos internos.

Deslocamento: sentimentos vinculados a um objeto são redirecionados a outro (p. ex. fobias).

Dissociação: modificação do caráter de uma pessoa ou de seu sentimento de identidade a fim de evitar angústia. Separa ativamente sentimentos, representações do self ou do objeto contraditórias como bem-mal, prazer-desprazer, etc.

Intelectualização: controle dos afetos e dos impulsos pensando sobre eles, mas não os experimentando.

Isolamento: divisão intrapsíquica ou separação entre o afeto e seu conteúdo, levando à repressão da idéia ou afeto ou ao deslocamento do afeto para um conteúdo diferente ou substituto.

Racionalização: aplicação de justificativas incorretas ou uso de sofismas convincentes para explicar atitudes, crenças ou comportamentos inaceitáveis de outra forma.

Formação reativa: expressão de sentimentos inaceitáveis de uma forma antitética ou oposta.

Repressão ou recalque: expulsão de uma idéia ou sentimento da percepção consciente para o inconsciente.

IV - Defesas Maduras

Altruísmo: satisfação vicária construtiva e gratificante das pulsões por serviços prestados aos outros.

Ascetismo: gratificação derivada da renúncia do prazer atribuída a uma experiência em favor de valores morais.

Humor: capacidade de fazer graça de si mesmo sem incômodo pessoal e sem causar desprazer nos demais.   Permite que se tolere o que parece ser terrível de ser suportado.

Sublimação: gratificação de uma pulsão cuja finalidade é preservada, mas cujo alvo ou objeto é convertido de socialmente objetável em socialismo valorizado.   Permite que as pulsões sejam canalizadas em vez de reprimidas ou desviadas.

Supressão: decisão consciente ou semiconsciente de adiar a tenção para um impulso ou conflito consciente.

Representações  da  gestante  como  mulher    e  mãe.

Fantasias  a  respeito  do  filho  e  da   sua identidade  futura.

Antecipações  de  dificuldades  profissionais  e no  relacionamento  com  o marido.

Medo  da  própria  morte  e/ou  do  bebê  no  parto,  bem  como  de malformações

Durante   o   processo   do    divórcio    observam-se    minicrises previsíveis  para  as  quais  os  adultos devem  estar  preparados  (Seibt, 1996) :

1. no momento da decisão de separar-se;

2. quando a decisão é comunicada à família e aos amigos;

3. quando se discutem dinheiro e visitas;

4. quando a separação física acontece;

5. quando o divórcio legal é assinado;

6. quando assuntos precisam ser renegociados, como, por exemplo, dinheiro e visitas e  quando um dos pais começa a namorar;

7. quando se comemoram aniversários, formaturas e outros acontecimentos importantes (um dos dois casa novamente, por exemplo).

EXPRESSÃO  GRÁFICA



O domínio do traço oblíquo: a criança vai mais além do desenho do quadrado, da cruz, do círculo e do triângulo para o desenho do losango e do “x”.

O detalhamento e a coordenação das estruturas do desenho da figura  humana:  surgem  atributos como mãos  e  olhos  e  posicionamento  adequado  do pescoço e  dos  diferentes  segmentos  do corpo.

O aparecimento no desenho do movimento e de interações:  a  criança  se  expressa  mais  pelo desenho do  que  pelo  relato  de  fatos.

A  noção  de  profundidade  e  de  sombreado:  noções que  surgem  ao  final  e  indicam  mudança  no sentido  da  aquisição  de  perspectiva  tridimensional.

AS  TAREFAS  EVOLUTIVAS  DA  MEIA-IDADE

aceitação do corpo que envelhece;

aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal;

manutenção da intimidade;

reavaliação dos relacionamentos;

relacionamentos com os filhos: deixar ir, atingir igualdade, integrar novos membros;

relação com seus pais: inversão de papéis, morte e individuação;

exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor;

novos significativos, habilidades e objetivos dos jogos na meia-idade;

preparação para a velhice.

MEDIDAS PREVENTIVAS

Manter a saúde física com a prevenção das doenças degenerativas;

Independência  econômica;

Ter  seu  próprio  espaço  físico  ou  moradia;

Ter  laços  de  amizade  e  vínculos  fortes  com  a  família;

Manter um relacionamento íntimo com um(a) companheiro(a);

Ter  um  vínculo  com  a  comunidade;

Manter-se  sempre  ocupado  e  com  planos  para  o  futuro;

Se possível, manter um vínculo com seu antigo trabalho ou  profissão;

Buscar  ajuda  na  comunidade;

Praticar  exercícios,  manter  uma  atividade  física  regular.

TAREFAS EVOLUTIVAS DO

ADULTO JOVEM (20 A 40 ANOS)



      1. Desenvolvimento de um sentido do self e do outro – a terceira individuação, com busca do preenchimento das lacunas deixadas pelas duas outras (infância e adolescência).   Ele permite uma separação psicológica dos pais da infância e uma (relativa) auto-suficiência no mundo adulto; facilita a relação de reciprocidade com os pais.

     2. Desenvolvimento de amizades adultas, mais difíceis de serem mantidas, diferentes daquelas da adolescência. Amizades com pessoas de diferentes idades, e de diferentes backgrounds.  (“Não vale” só pessoas da mesma idade, da mesma profissão, do mesmo nível sócio-econômico-cultural, etc.)

3. Desenvolvimento da capacidade para a intimidade emocional e sexual.  Rever a crise conforme Erikson: intimidade versus isolamento (resultado: amor e filiação).

4. Tornar-se pai ou mãe em termos biológicos e psicológicos, capacidade esta baseada em antecedentes ou conquistas desenvolvimentais prévias: identidade de gênero nuclear na infância, consciência da diferença entre os sexos, resolução saudável do Édipo, integração, na fase da latência, de atitudes pessoais, familiares e sociais em relação à masculinidade e feminilidade, evolução da vida sexual na adolescência e experiências evolutivas de sexo e intimidade na fase de adulto jovem. (Engravidar pode até ser fácil; difícil é ser pai ou mãe).

5. Formação de uma identidade profìssional adulta, encontrando um lugar gratificante no mundo do trabalho (atenção para as diferenças entre trabalho, emprego e subemprego na nova economia).

6. Desenvolvimento de formas adultas de brincar.  Manter-se em contato com "a criança de cada um de nós" ; não esquecer que o brincar é a base do inventar, do criar, do descobrir, essenciais na atividade artística e científica.

7. Tomada de consciência da limitação do tempo e da morte pessoal, de forma integrada. (Rever a hipótese de Elliot Jaques: auge versus morte nas pessoas criativas entre os 35 e 39 anos.)

CARACTERÍSTICAS QUE SUGEREM PROVÁVEL ETIOLOGIA

PSICOSSOCIAL DOS SINTOMAS



A história e a descrição do sintoma não caracterizam nenhuma doença familiar para o médico.

A descrição do sintoma parece exagerada ou afetada, e imagens floridas são empregadas para descrever a queixa.

Queixas somáticas múltiplas, envolvendo vários sistemas, são relatadas.

O tipo da queixa física indica, por si só, alta probabilidade de etiologia psicogênica (por exemplo, dor abdominal recorrente, cefaléia crônica, hiperventilação, tonturas, etc).

A queixa é acompanhada de outros sinais e sintomas de natureza vegetativa (sudorese, palidez, tonturas, taquicardia, polaciúria, etc), e/ou de queixas vagas como fadiga, dores difusas, distúrbios do apetite e do sono.

O paciente parece indiferente ou pouco preocupado com a existência do sintoma, apesar da aparente gravidade deste, ou, ao contrário, sua preocupação é desproporcionalmente intensa para um sintoma pouco significativo.

 As queixas surgiram após um evento ou situação estressante.

Os sintomas do adolescente se assemelham aos de alguma pessoa (pais, irmãos, parentes, amigo, vizinho) que faleceu recentemente ou está com alguma doença grave.

Há conflito familiar (desarmonia, drogadição, separação, doença grave, morte, etc), abuso sexual, e/ou história de queixas somáticas freqüentes nos pais.

O adolescente e/ou seus pais notam a relação entre a sintomatologia e eventos (ou situações) estressantes, e/ou sintomas emocionais com ansiedade, medo, tristeza, raiva, etc.

O adolescente e/ou seus pais relutam em aceitar a associação etiológica do sintoma físico com os fatores psicossociais, quando esta parece óbvia para o médico.

A sintomatologia física é acompanhada de sinais e sintomas de um distúrbio afetivo, como depressão, ou de ansiedade, ou de distúrbio de conduta, e/ou de condições como abuso de drogas, ideação suicida, ou preocupação exagerada com a morte.

A sintomatologia física parece trazer ganhos secundários desejados pelo adolescente, como faltas à escola ou à competição esportiva, maior atenção da família, menor responsabilidade, etc.

As queixas físicas motivaram freqüentes faltas à escola ou ao trabalho, e essas faltas não foram mencionadas pelo paciente.

O adolescente foi visto com a mesma queixa por vários médicos e/ou atendido várias vezes em pronto-socorros, e/ou realizou vários exames complementares, e/ou tomou vários medicamentos, sem melhora da sintomatologia.

A sintomatologia melhora após uma ou mais entrevistas de apoio, e/ou após medicação placebo, e/ou após exames que resultaram normais.



CICLOS VITAIS



Principais desenvolvimentos

nos oito períodos do ciclo de vida



Faixa etária

Estágio pré-natal (concepção até nascimento)

Primeira infância (nascimento até 3 anos)

Segunda infância (3 a 6 anos)

Terceira infância (6 a 12 anos)

Adolescência (12 a 20 anos)

Jovem adulto (20 a 40 anos)

Meia-idade (40 a 65 anos)

Terceira idade (65 anos em diante)


ESTÁGIO PRÉ-NATAL  (CONCEPÇÃO ATÉ NASCIMENTO)



PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Formação da estrutura e órgãos corporais básicos.

O crescimento físico é o mais rápido de todos os períodos

Grande vulnerabilidade às influências ambientais.


PRIMEIRA  INFÂNCIA  (NASCIMENTO ATÉ 3 ANOS)



 PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

O recém-nascido é dependente porém competente.

Todos os sentidos funcionam no nascimento.

Crescimento físico e desenvolvimento das habilidades motoras são rápidos.

Capacidade de aprender e lembrar está presente, até mesmo nas primeiras semanas de vida.

Compreensão e fala se desenvolvem rapidamente.

Autoconsciência se desenvolve no segundo ano.

Apego aos pais e a outros se forma aproximadamente no final do primeiro ano de vida.

Interesse por outras crianças aumenta.


SEGUNDA  INFÂNCIA  (DE 3 A 6 ANOS)



  PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Força e habilidades motoras simples e complexas aumentam.

Comportamento é predominantemente egocêntrico, mas a compreensão da perspectiva dos outros aumenta.

Imaturidade cognitiva leva a muitas idéias ilógicas acerca do mundo.

Brincar, criatividade e imaginação tornam-se mais elaborados.

Independência, autocontrole e cuidado próprio aumentam.ØØ

Família ainda é o núcleo da vida, embora outras crianças comecem a se tornar importantes.


TERCEIRA  INFÂNCIA  (DE 6  A 12 ANOS)



 PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Crescimento físico diminui.

Força e habilidades físicas se aperfeiçoam.

Egocentrismo diminui.

Crianças passam a pensar com lógica, embora predominantemente concreta.

Memória e habilidades de linguagem aumentam.

Ganhos cognitivos melhoram a capacidade de tirar proveito da educação formal.

Auto-imagem se desenvolve, afetando a auto-estima.

Amigos assumem importância fundamental


ADOLESCÊNCIA  (DE 12  A 20 ANOS)



  PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Mudanças físicas são rápidas e profundas.

Atinge-se a maturidade reprodutiva.

Capacidade de pensar abstratamente e usar o pensamento científico se desenvolve.

Egocentrismo adolescente persiste em alguns comportamentos.

Busca de identidade torna-se fundamental.

Grupos de amigos ajudam a desenvolver e testar a auto-imagem.

Relacionamento com os pais geralmente é bom.

ADULTO  (DE 20  A 40 ANOS)



 PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

Saúde física atinge o máximo, depois cai ligeiramente.

Habilidades cognitivas assumem maior complexidade.

Decisões sobre relacionamentos íntimos são tomadas.

A maioria das pessoas se casa; a maioria tem filhos.

Escolhas profissionais são feitas.


MEIA- IDADE  (DE 40 A 65 ANOS)



 PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

ØOcorre certa deterioração da saúde física, e declínio da resistência e perícia.

Mulheres entram na menopausa.

Sabedoria e capacidade de resolução de problemas práticos são acentuadas; capacidade de resolver novos problemas declina.

Senso de identidade continua a se desenvolver.

Dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e pais idosos pode causar estresse.

Partida dos filhos tipicamente deixa o ninho vazio.

Para alguns, sucesso na carreira e ganhos atingem o máximo; para outros ocorre um esgotamento profissional.

Busca do sentido da vida assume importância fundamental.

Para alguns, pode ocorrer a crise da meia-idade.


TERCEIRA IDADE  (DE 65 ANOS EM DIANTE)



  PRINCIPAIS  DESENVOLVIMENTOS

ØA maioria das pessoas é saudável e ativa, embora a saúde e a capacidade física declinem um pouco.

ØRetardamento do tempo de reação afeta muitos aspectos do funcionamento.

ØA maioria das pessoas é mentalmente ativa.   Embora a inteligência e a memória possam se deteriorar  em algumas áreas, a maioria das pessoas encontra modos de compensação.

ØAposentadoria pode criar mais tempo para o lazer mas pode diminuir as rendas.

ØAs pessoas precisam enfrentar perdas em muitas áreas (perdas de suas próprias faculdades, perda de afetos) e a iminência de sua própria morte.



LIVRO CICLO DA VIDA



Gestação, Parto e Puerpério

O Bebê e os Pais

O Ciclo Vital da Família

A Criança de 0 a 3 anos

A Criança Pré-Escolar

A idade Escolar: Latência (6 a 12 anos)

A Puberdade

A Adolescência

Adultos Jovens, seus Scripts e Cenários

Idade Adulta: Meia-Idade

A Velhice

A Morte: Última Etapa do Ciclo Vital

O  NEURÔNIO

O  neurônio  é  a  unidade  funcional  do  cérebro.

Um neurônio pode receber milhares de conexões sinápticas  de outros neurônios, uma vez que o cérebro humano apresenta, aproximadamente, 10 neurônios.

Calcula-se que o número total de genes do DNA humano chegue a 100.000.    Desses, talvez 50.000 sejam funcionais exclusivamente no cérebro, o que sugere  a  enorme complexidade  do  controle genético  sobre  o  cérebro  e  seu  desenvolvimento.



Estágios



I. Sensório-Oral (Infância)

II. Anal-Muscular

III. Genital-Locomotor

IV. Latência (Idade escolar)

V. Puberdade e Adolescência

VI. Adulto Jovem

VII. Adulto



Crise  Psicossocial



Confiança Básica X Desconfiança

Autonomia X Vergonha, Dúvida

Iniciativa X Inferioridade

Atividade X Inferioridade

Identidade X Confusão de Identidade

Intimidade X Isolamento

Generatividade X Estagnação

Integridade de Ego X Desespero



MECANISMOS  DE  DEFESA

 I -   Defesas  Narcísicas

Negação: evitar a percepção de algum aspecto doloroso da realidade, negando dados sensoriais. Afeta mais a percepção da realidade externa do que da realidade interna.  Não é necessariamente psicótica, podendo estar a serviço de objetivos adaptativos ou neuróticos.

 Projeção: perceber e reagir a estímulos internos inaceitáveis e seus derivados como se estivessem fora do self  (eu).  Pode levar a delírios francos sobre a realidade externa, usualmente de cunho persecutório; inclui tanto a percepção de seus próprios sentimentos em outros como agir em função dessa percepção.

Distorção: reformular grosseiramente a realidade externa no sentido de enquadrá-la aos desejos internos, podendo incluir crença irreal megalomaníaca, alucinações e delírios, utilizando sentimentos delirantes de superioridade ou autoridade.

II - Defesas  Imaturas

 Atuação (acting-out): expressão direta de um desejo ou pulsão inconsciente para evitar a consciência do afeto associado a eles.  A fantasia inconsciente é vivida de modo impulsivo, gratificando mais o impulso do que a sua proibição.   Inclui agir para evitar a tensão que resultaria se o impulso fosse postergado.

Bloqueio:  inibição usualmente temporária dos afetos, pensamentos ou impulsos.

Hipocondria: transformação da censura alheia em autocensura e queixas de dor e enfermidade somática, como conseqüência de privação, solidão ou pulsões agressivas inaceitáveis.

Introjeção: internalização das características de um objeto amado, visando a aproximar-se deste e manter sua presença.   A introjeção de um objeto temido, pela internalização das suas características agressivas, leva a um controle da agressão.

Comportamento passivo-agressivo: agressão para com o objeto, manifestada de forma indireta e ineficaz por meio de passividade, masoquismo e voltando-se contra si mesmo.

 Projeção: atribuição aos outros dos próprios sentimentos inaceitáveis. Inclui preconceitos, rejeição, suspeita, excessiva cautela contra perigos externos, etc.

 Regressão: retorno a um estágio anterior do desenvolvimento devido à dificuldade de enfrentar as ansiedades e desafios atuais. Inclui um retorno a pontos de fixação primitivos e incorporação de comportamentos já abandonados.

 Somatização: conversão defensiva de derivados psíquicos em sintomas corporais

III - Defesas Neuróticas

Controle: tentativa exagerada de manejar ou regular os acontecimentos ou o ambiente externo com o objetivo de minimizar a ansiedade e resolver conflitos internos.

Deslocamento: sentimentos vinculados a um objeto são redirecionados a outro (p. ex. fobias).

Dissociação: modificação do caráter de uma pessoa ou de seu sentimento de identidade a fim de evitar angústia. Separa ativamente sentimentos, representações do self ou do objeto contraditórias como bem-mal, prazer-desprazer, etc.

Intelectualização: controle dos afetos e dos impulsos pensando sobre eles, mas não os experimentando.

Isolamento: divisão intrapsíquica ou separação entre o afeto e seu conteúdo, levando à repressão da idéia ou afeto ou ao deslocamento do afeto para um conteúdo diferente ou substituto.

Racionalização: aplicação de justificativas incorretas ou uso de sofismas convincentes para explicar atitudes, crenças ou comportamentos inaceitáveis de outra forma.

Formação reativa: expressão de sentimentos inaceitáveis de uma forma antitética ou oposta.

Repressão ou recalque: expulsão de uma idéia ou sentimento da percepção consciente para o inconsciente.

IV - Defesas Maduras

Altruísmo: satisfação vicária construtiva e gratificante das pulsões por serviços prestados aos outros.

Ascetismo: gratificação derivada da renúncia do prazer atribuída a uma experiência em favor de valores morais.

Humor: capacidade de fazer graça de si mesmo sem incômodo pessoal e sem causar desprazer nos demais.   Permite que se tolere o que parece ser terrível de ser suportado.

Sublimação: gratificação de uma pulsão cuja finalidade é preservada, mas cujo alvo ou objeto é convertido de socialmente objetável em socialismo valorizado.   Permite que as pulsões sejam canalizadas em vez de reprimidas ou desviadas.

Supressão: decisão consciente ou semiconsciente de adiar a tenção para um impulso ou conflito consciente.

Representações  da  gestante  como  mulher    e  mãe.

Fantasias  a  respeito  do  filho  e  da   sua identidade  futura.

Antecipações  de  dificuldades  profissionais  e no  relacionamento  com  o marido.

Medo  da  própria  morte  e/ou  do  bebê  no  parto,  bem  como  de malformações

Durante   o   processo   do    divórcio    observam-se    minicrises previsíveis  para  as  quais  os  adultos devem  estar  preparados  (Seibt, 1996) :

1. no momento da decisão de separar-se;

2. quando a decisão é comunicada à família e aos amigos;

3. quando se discutem dinheiro e visitas;

4. quando a separação física acontece;

5. quando o divórcio legal é assinado;

6. quando assuntos precisam ser renegociados, como, por exemplo, dinheiro e visitas e  quando um dos pais começa a namorar;

7. quando se comemoram aniversários, formaturas e outros acontecimentos importantes (um dos dois casa novamente, por exemplo).

EXPRESSÃO  GRÁFICA



O domínio do traço oblíquo: a criança vai mais além do desenho do quadrado, da cruz, do círculo e do triângulo para o desenho do losango e do “x”.

O detalhamento e a coordenação das estruturas do desenho da figura  humana:  surgem  atributos como mãos  e  olhos  e  posicionamento  adequado  do pescoço e  dos  diferentes  segmentos  do corpo.

O aparecimento no desenho do movimento e de interações:  a  criança  se  expressa  mais  pelo desenho do  que  pelo  relato  de  fatos.

A  noção  de  profundidade  e  de  sombreado:  noções que  surgem  ao  final  e  indicam  mudança  no sentido  da  aquisição  de  perspectiva  tridimensional.

AS  TAREFAS  EVOLUTIVAS  DA  MEIA-IDADE

aceitação do corpo que envelhece;

aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal;

manutenção da intimidade;

reavaliação dos relacionamentos;

relacionamentos com os filhos: deixar ir, atingir igualdade, integrar novos membros;

relação com seus pais: inversão de papéis, morte e individuação;

exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor;

novos significativos, habilidades e objetivos dos jogos na meia-idade;

preparação para a velhice.

MEDIDAS PREVENTIVAS

Manter a saúde física com a prevenção das doenças degenerativas;

Independência  econômica;

Ter  seu  próprio  espaço  físico  ou  moradia;

Ter  laços  de  amizade  e  vínculos  fortes  com  a  família;

Manter um relacionamento íntimo com um(a) companheiro(a);

Ter  um  vínculo  com  a  comunidade;

Manter-se  sempre  ocupado  e  com  planos  para  o  futuro;

Se possível, manter um vínculo com seu antigo trabalho ou  profissão;

Buscar  ajuda  na  comunidade;

Praticar  exercícios,  manter  uma  atividade  física  regular.

TAREFAS EVOLUTIVAS DO

ADULTO JOVEM (20 A 40 ANOS)



      1. Desenvolvimento de um sentido do self e do outro – a terceira individuação, com busca do preenchimento das lacunas deixadas pelas duas outras (infância e adolescência).   Ele permite uma separação psicológica dos pais da infância e uma (relativa) auto-suficiência no mundo adulto; facilita a relação de reciprocidade com os pais.

     2. Desenvolvimento de amizades adultas, mais difíceis de serem mantidas, diferentes daquelas da adolescência. Amizades com pessoas de diferentes idades, e de diferentes backgrounds.  (“Não vale” só pessoas da mesma idade, da mesma profissão, do mesmo nível sócio-econômico-cultural, etc.)

3. Desenvolvimento da capacidade para a intimidade emocional e sexual.  Rever a crise conforme Erikson: intimidade versus isolamento (resultado: amor e filiação).

4. Tornar-se pai ou mãe em termos biológicos e psicológicos, capacidade esta baseada em antecedentes ou conquistas desenvolvimentais prévias: identidade de gênero nuclear na infância, consciência da diferença entre os sexos, resolução saudável do Édipo, integração, na fase da latência, de atitudes pessoais, familiares e sociais em relação à masculinidade e feminilidade, evolução da vida sexual na adolescência e experiências evolutivas de sexo e intimidade na fase de adulto jovem. (Engravidar pode até ser fácil; difícil é ser pai ou mãe).

5. Formação de uma identidade profìssional adulta, encontrando um lugar gratificante no mundo do trabalho (atenção para as diferenças entre trabalho, emprego e subemprego na nova economia).

6. Desenvolvimento de formas adultas de brincar.  Manter-se em contato com "a criança de cada um de nós" ; não esquecer que o brincar é a base do inventar, do criar, do descobrir, essenciais na atividade artística e científica.

7. Tomada de consciência da limitação do tempo e da morte pessoal, de forma integrada. (Rever a hipótese de Elliot Jaques: auge versus morte nas pessoas criativas entre os 35 e 39 anos.)

CARACTERÍSTICAS QUE SUGEREM PROVÁVEL ETIOLOGIA

PSICOSSOCIAL DOS SINTOMAS



A história e a descrição do sintoma não caracterizam nenhuma doença familiar para o médico.

A descrição do sintoma parece exagerada ou afetada, e imagens floridas são empregadas para descrever a queixa.

Queixas somáticas múltiplas, envolvendo vários sistemas, são relatadas.

O tipo da queixa física indica, por si só, alta probabilidade de etiologia psicogênica (por exemplo, dor abdominal recorrente, cefaléia crônica, hiperventilação, tonturas, etc).

A queixa é acompanhada de outros sinais e sintomas de natureza vegetativa (sudorese, palidez, tonturas, taquicardia, polaciúria, etc), e/ou de queixas vagas como fadiga, dores difusas, distúrbios do apetite e do sono.

O paciente parece indiferente ou pouco preocupado com a existência do sintoma, apesar da aparente gravidade deste, ou, ao contrário, sua preocupação é desproporcionalmente intensa para um sintoma pouco significativo.

 As queixas surgiram após um evento ou situação estressante.

Os sintomas do adolescente se assemelham aos de alguma pessoa (pais, irmãos, parentes, amigo, vizinho) que faleceu recentemente ou está com alguma doença grave.

Há conflito familiar (desarmonia, drogadição, separação, doença grave, morte, etc), abuso sexual, e/ou história de queixas somáticas freqüentes nos pais.

O adolescente e/ou seus pais notam a relação entre a sintomatologia e eventos (ou situações) estressantes, e/ou sintomas emocionais com ansiedade, medo, tristeza, raiva, etc.

O adolescente e/ou seus pais relutam em aceitar a associação etiológica do sintoma físico com os fatores psicossociais, quando esta parece óbvia para o médico.

A sintomatologia física é acompanhada de sinais e sintomas de um distúrbio afetivo, como depressão, ou de ansiedade, ou de distúrbio de conduta, e/ou de condições como abuso de drogas, ideação suicida, ou preocupação exagerada com a morte.

A sintomatologia física parece trazer ganhos secundários desejados pelo adolescente, como faltas à escola ou à competição esportiva, maior atenção da família, menor responsabilidade, etc.

As queixas físicas motivaram freqüentes faltas à escola ou ao trabalho, e essas faltas não foram mencionadas pelo paciente.

O adolescente foi visto com a mesma queixa por vários médicos e/ou atendido várias vezes em pronto-socorros, e/ou realizou vários exames complementares, e/ou tomou vários medicamentos, sem melhora da sintomatologia.

A sintomatologia melhora após uma ou mais entrevistas de apoio, e/ou após medicação placebo, e/ou após exames que resultaram normais.



PARANÓIA



 
Paranóia

National Institute of Mental Health EUA
Sociedade Bras. de Psiquiatria Clínica *

 

Paranóia - A palavra

Paranóia é um termo utilizado por especialistas em saúde metal para descrever desconfiança ou suspeita altamente exagerada ou injustificada. A palavra é freqüentemente utilizada na conversação cotidiana, em geral em momentos de rancor e de forma incorreta. Simples desconfiança não é paranóia - especialmente se fundamentada em experiência passada ou em expectativas baseadas na experiência alheia.

A paranóia pode ser discreta e a pessoa afetada ser razoavelmente bem ajustada socialmente ou pode ser tão grave que o indivíduo se tora incapacitado. Às vezes o diagnóstico é difícil, já que muitos distúrbios psiquiátricos são acompanhados de alguma característica paranóide. As paranóias podem ser classificadas em três categorias principais: distúrbio paranóide de personalidade, distúrbio delirante paranóide e esquizofrenia paranóide.

Distúrbio Paranóide de Personalidade
 

Oswaldo trabalhava em um grande escritório como programador de computação. Quando outro programador foi promovido, Oswaldo achou que seu supervisor tinha raiva dele e que jamais reconheceria seu valor. Estava certo de estar sendo sutilmente menosprezado pelos colegas. Muitas vezes nos intervalos para o cafezinho, observando-os em pequenos grupos, imaginava que estivessem falando dele. Se visse um grupo de pessoas rindo, pensava que estivessem rindo dele. Passava tanto tempo remoendo tais idéias, que seu rendimento no trabalho caiu a ponto de seu supervisor alertá-lo de que precisaria melhorar seu desempenho para não receber uma avaliação insatisfatória. Esta atitude reforçou as suspeitas de Oswaldo, que decidiu procurar emprego em outra grande empresa. Após algumas semanas em seu novo serviço, começou a achar que os colegas de escritório não gostavam dele, excluindo-o de conversas, ridicularizando-o pelas costas e denegrindo seu trabalho. Oswaldo mudou de emprego seis vezes nos últimos sete anos. Ele sofre de distúrbio paranóide de personalidade.

Algumas pessoas tornam-se desconfiadas sem motivo, em tal grau que seus pensamentos paranóides destroem sua vida profissional e familiar. Diz-se que tais pessoas têm distúrbio paranóide de personalidade. Elas são:

Desconfiadas

A desconfiança permanente é um sinal inconfundível de paranóia. Pessoas com distúrbio paranóide de personalidade estão constantemente em guarda, por enxergarem o mundo como um lugar ameaçador. Tendem a confirmar suas expectativas, agarrando-se a mínimas evidências que confirmem suas suspeitas, e ignoram ou distorcem qualquer prova em contrário. Estão sempre alertas, procurando sinais de alguma ameaça.

Qualquer pessoa em uma situação nova — nos primeiros dias em um emprego ou iniciando um relacionamento, por exemplo — é cautelosa e de certa forma reservada, até sentir que seus temores são infundados. Pessoas com paranóia não conseguem abandonar seus temores. Continuam a esperar por armadilhas e duvidam da lealdade dos outros. No relacionamento pessoal ou no casamento, essa desconfiança pode apresentar-se sob a forma de ciúme patológico e infundado.

Hipersensíveis

Por estarem excessivamente alertas, as pessoas com distúrbio paranóide de personalidade percebem qualquer minúcia e podem ofender-se sem motivo. Em conseqüência, tendem a ser excessivamente defensivas e hostis. Quando cometem algum erro, não reconhecem a culpa, nem aceitam a mais leve crítica. Entretanto, são extremamente criticas em relação aos outros. Pode-se dizer que tais pessoas fazem “tempestade em copo d’água”.

Frias e Distantes

Além de serem polemistas e irredutíveis, as pessoas com distúrbio paranóide de personalidade têm dificuldade de manter vínculos afetivos. Parecem frias e evitam relacionamentos interpessoais. Orgulham-se de serem racionais e objetivas. Pessoas com uma perspectiva paranóide em relação à vida raramente procuram auxílio médico - não faz parte de sua natureza pedir ajuda.          Profissionalmente podem atuar com competência. Pode procurar redutos sociais onde o estilo moralista e punitivo seja aceitável ou, até certo ponto, tolerável.



Distúrbio Delirante Paranóide

Os psiquiatras fazem distinção entre o discreto distúrbio paranóide de personalidade, descrito acima, e O distúrbio delirante paranóide, mais incapacitante. A característica mais marcante deste último é a presença de um tipo de delírio persistente e não bizarro, sem sintomas de qualquer outro distúrbio mental.

Delírios são crenças fortes, não verdadeiras, não compartilhadas por outras pessoas da mesma cultura e não facilmente modificáveis. Cinco tipos de delírios são observados. Em alguns indivíduos, mais de um pode ocorrer.

Ruth é uma secretária eficiente e prestativa. Seus superiores e colegas de trabalho valorizam muito sua contribuição no escritório. No entanto. Ruth passa suas noites escrevendo cartas a autoridades. Sente que Deus abriu sua mente e lhe ensinou a cura do câncer. Quer que algum importante centro de tratamento utilize essa cura em todos os pacientes, para provar ao mundo que está certa. Muitas de suas cartas não são respondidas, outras recebem respostas evasivas, o que a faz sentir que ninguém compreende que ela seria capaz de salvar todos os pacientes de câncer, se lhe fosse dada à chance. Quando alguma de suas cartas é respondida por um assessor da autoridade a quem foi dirigida, ela tem certeza de que o destinatário foi deliberadamente mantido desinformado de seu conhecimento e capacidade. Algumas vezes desespera-se com o fato de que o mundo jamais saberá o quanto ela é maravilhosa, porém não desiste e continua a escrever. Ruth sofre de um dos tipos de distúrbio delirante, o delírio de grandeza (ou megalomania).

O delírio mais comum nos distúrbios delirantes é persecutório. Enquanto que têm personalidade paranóide podem suspeitar de que seus colegas estão rindo à sua custa, pessoas com delírio de perseguição desconfiam que os outros estejam elaborando grandes tramas para perseguí-las. Acreditam que estão sendo envenenadas, drogadas, espanadas, ou que são alvo de conspirações com o intuito de arruinar sua reputação ou até lhes causar a morte. Às vezes, movem ações judiciais com a intenção de serem ressarcidas por injustiças imaginárias.

Outro tipo freqüentemente observado é o delírio de ciúme. Qualquer indício — até uma mancha insignificante na roupa ou um pequeno atraso para chegar em casa — é interpretado como evidência de que o cônjuge está sendo infiel.

Delírios eróticos envolvem uma fixação romântica por uma pessoa, geralmente alguém de nível social mais elevado ou alguma celebridade. Indivíduos com delírios eróticos muitas vezes assediam pessoas através de inúmeras cartas, telefonemas, visitas e vigilância furtiva.

Pessoas com delírios de grandeza geralmente acham que são dotadas de poderes especiais e que, se autorizadas a praticar esses poderes, poderiam curar doenças, erradicar a pobreza, assegurar a paz mundial ou executar feitos extraordinários.

Indivíduos com delírios hipocondríacos estão convencidos de que há algo errado com seu corpo — acham que exalam mau cheiro, sentem-se infestados por insetos ou se julgam deformados e feios. Devido a esse tipo de delírio, tendem a evitar o convívio social e passam muito tempo consultando médicos sobre suas doenças imaginárias.

Ainda não foi avaliada de forma sistemática a hipótese de que pessoas com distúrbio delirante possam constituir perigo para outras, mas a experiência clínica sugere que tais pessoas raramente são homicidas. Os indivíduos delirantes geralmente são irritáveis e. por isso, são tidos como ameaçadores. Nos raros casos em que indivíduos com distúrbio delirante tornam-se violentos, suas vítimas geralmente são pessoas que inadvertidamente se encaixam em seu esquema delirante. A pessoa em maior perigo no relacionamento com um indivíduo com distúrbio delirante é o cônjuge ou amante.

Esquizofrenia Paranóide

Alfredo, não gostava muito de escola e estava feliz por ter concluído o colegial e conseguido um emprego. Mas, quando se deu conta de que necessitava de melhor formação para atingir seus objetivos, matriculou-se em uma faculdade próxima. Alugou uma casa com outros jovens e se aplicou nos estudos. Próximo do final do segundo ano parou de fazer as refeições com os colegas e passou a se alimentar só de enlatados, para ter certeza de que não estava sendo envenenado. Ao andar pelo campus, evitava as moças, pois achava que elas lhe lançavam teias envenenadas que envolveriam seu corpo como uma gigantesca teia de aranha. Quando começou a temer que seus colegas colocassem gás envenenado em seu quarto, abandonou a escola e voltou para casa. Limpou seu quarto e colocou uma tranca na porta, para que os pais não pudessem entrar e contaminar o recinto. Comprou um fogareiro elétrico e passou a preparar a própria comida. Se sua mãe insistisse para que fizesse uma refeição com a família, ele a acusava de tentar envenená-lo. Seus pais finalmente conseguiram convencê-lo a procurar um psiquiatra que diagnosticou “esquizofrenia paranóide” Com medicamentos, terapia individual e de grupo. Alfredo melhorou o suficiente para trabalhar em um escritório sob a supervisão de um chefe compreensivo e encorajador.

  Idéias e comportamento paranóides são características de uma forma de esquizofrenia chamada esquizofrenia paranóide. Indivíduos que sofrem de esquizofrenia paranóide normalmente são acometidos de delírios extremamente bizarros ou alucinações, quase sempre sobre um tema especifico. Freqüentemente ouvem vozes que outros não podem ouvir ou acreditam que seus pensamentos estão sendo controlados ou divulgados em voz alta. Além disso, seu desempenho em casa e no emprego se deteriora, muitas vezes com um grau menor de expressividade emocional.

Por outro lado, as pessoas com distúrbio delirante paranóide relativamente mais discreto podem ter sintomas como delírios persecutórios ou de ciúmes, mas não as alucinações acentuadas ou impossíveis e os delírios bizarros da esquizofrenia paranóide. Tais pessoas geralmente podem trabalhar e seu comportamento e expressão emocional são coerentes com o tema de seus delírios. Excetuando os delírios, seu pensamento permanece sistematizado e lógico, ao contrário das pessoas com esquizofrenia paranóide, que com freqüência, têm o pensamento desorganizado e confuso.

Causas da Paranóia

Fatores Genéticos

Pouco se tem estudado sobre o papel da hereditariedade na paranóia. Pesquisadores observaram que famílias de pacientes paranóides não apresentam incidência de esquizofrenia ou depressão acima do normal. Entretanto, há evidências de que sintomas paranóides na esquizofrenia podem ter influência genética. Alguns estudos em gêmeos idênticos com esquizofrenia mostraram que, quando um dos gêmeos apresenta sintomas paranóides, geralmente o outro também os manifesta. Além disso, pesquisas recentes têm indicado que distúrbios paranóides são significativamente mais comuns em parentes de pessoas com esquizofrenia do que na população em geral. Ainda não se sabe se os distúrbios paranóides — ou a predisposição para apresentá-los — são hereditários ou não.

Fatores Bioquímicos

A descoberta de que a psicose (estado no qual o indivíduo perde o contato com a realidade) é tratável com drogas antipsicóticas tem levado os pesquisadores a procurar as origens de distúrbios mentais graves em anomalias químicas no cérebro. A pesquisa tem se tornado muito complexa à medida que se descobrem mais e mais substâncias químicas que transmitem mensagens de uma célula nervosa para outra - os neurotransmissores. Até agora, não se encontraram respostas definidas. Como nos estudos genéticos, também não houve estudos bioquímicos específicos em paranóia, a não ser como um subtipo de esquizofrenia. Há, no entanto, algumas evidências de que a esquizofrenia paranóide é bioquimicamente distinta das formas não-paranóides deste distúrbio.

O abuso de drogas como anfetaminas, cocaína, maryuana, PCP (“pó de anjo”), LSD ou outros estimulantes ou compostos “psicodélicos” pode produzir pensamentos ou comportamento paranóides, ou agravar os sintomas já existentes em pacientes com doença mental grave, como esquizofrenia. Pesquisadores estão estudando a ação bioquímica de tais drogas, a fim de compreender como elas produzem mudanças no comportamento, Isso poderá nos ajudar a aprender mais sobre a neuroquímica dos distúrbios paranóides.

“Stress”

Alguns especialistas acreditam que a paranóia pode ser uma reação a altos níveis de “stress”. Reforçando essa opinião, há evidência de que a paranóia incide mais entre imigrantes, prisioneiros de guerra e outras pessoas submetidas a altos níveis de “stress”. Há pessoas que apresentam uma forma aguda de paranóia, quando submetidas a uma situação nova e altamente estressante, com delírios que se desenvolvem em um curto espaço de tempo e duram apenas alguns meses.

Alguns estudos demonstram que a paranóia tem ocorrido com maior freqüência no século XX. A relação entre o “stress” e a paranóia não exclui, é claro, outros fatores causais. Um defeito genético, uma anomalia cerebral, um distúrbio no processamento de informações — ou todos os três fatores — poderiam predispor uma pessoa á paranóia; o “stress” poderia simplesmente atuar como fator desencadeante.

Tratamento da Paranóia



A desconfiança das pessoas paranóides torna difícil o tratamento da doença. Raramente, falarão com espontaneidade em uma consulta. Desconfiam do tipo de sondagem aberta que muitos terapeutas utilizam para conhecer a história do paciente (por exemplo: “fale-me de seu relacionamento com seus colegas de trabalho”). Podem não aceitar medicamentos ou uma internação, temendo a perda de controle ou outros perigos, reais ou imaginários.

Tratamento Medicamentoso

O tratamento com medicamentos antipsicóticos apropriados pode ajudar o paciente paranóide a superar alguns sintomas. Embora o comportamento do paciente possa ser melhorado, os sintomas paranóides freqüentemente permanecem inalterados. Alguns estudos indicam uma melhora dos sintomas com o tratamento medicamentoso, porém resultados semelhantes ocorrem, freqüentemente, em pacientes que recebem placebo (“remédio” sem ingrediente ativo). Esta observação sugere que, em alguns casos, a paranóia diminui mais por razões psicológicas do que pela ação do medicamento. Pacientes paranóides em tratamento com medicamentos devem ser mantidos sob rigorosa observação. A desconfiança e o delírio de perseguição os levam, muitas vezes, a recusar ou sabotar o tratamento - por exemplo, conservar o comprimido dentro da boca, sem engolir, até ficarem sozinhos e então cuspi-lo.

Psicoterapia

Relatos de casos individuais sugerem que a oportunidade de expressar seus temores e desconfianças de forma regular, como é propiciada pela psicoterapia, pode ajudar o paciente paranóide a se ajustar à vida social. Embora as idéias paranóides pareçam persistir, elas podem tornar-se menos prejudiciais. Outros tipos de psicoterapia, com os quais se observa uma melhora do comportamento social, sem redução apreciável dos delírios paranóides, são a terapia familiar, a terapia de grupo e a arteterapia.



Perspectivas para os Pacientes Paranóides
 

Apesar das dificuldades de tratamento, pacientes com um distúrbio paranóide podem ajustar-se razoavelmente bem. Mesmo que suas idéias paranóides sejam aparentemente inabaláveis, vários tratamentos parecem eficazes, melhorando o ajustamento social, e evitando hospitalizações prolongadas. Os sintomas são menos bizarros do que os associados à esquizofrenia paranóide. Os distúrbios paranóides parecem, também, causar menos desorganização da personalidade e ruptura na vida social e familiar. Ao contrário da esquizofrenia, que pode se tornar progressivamente pior, o distúrbio paranóide parece atingir um certo grau de gravidade e se estabilizar.

* Dr. David Shoe, M.D. ,
Dr. David Picka, M.D. ,
Dr. Darryl G.Kirch, M.D. ,

Síndrome de abstinência do álcool

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA DO ÁLCOOL




Guia de Medicina Ambulatorial e Hospitalar: Guia de Medicina de Urgência
Álvaro Nagib Atallah, Elisa Suemitsu Higa, Leonardo de Lucca Schiavon,
Luciana Oba O. Kikuchi, Rodrigo Silva Cavallazzi - Barueri, SP - Manole, 2004






           Pessoas que ingerem bebida alcoólica de forma excessiva apresentam sinais e sintomas desta síndrome quando diminuem a quantidade ingerida ou param completamente de beber. As principais manifestações clínicas são: agitação, ansiedade, alteração de humor (irritabilidade, disforia), tremores, náuseas, vômitos, taquicardia e hipertensão arterial. Ocorrem complicações como: alucinações, delirium tremens e convulsões.



           Diagnóstico



           • As primeiras manifestações surgem após 6 h da diminuição ou interrupção do uso do álcool: tremores, ansiedade, insônia, náuseas e inquietação.

           • Sintomas mais severos ocorrem em aproximadamente 10% dos pacientes e incluem febre baixa, taquipnéia e sudorese profusa. As convulsões podem ocorrer em cerca de 5% dos pacientes não tratados.

           • Outra complicação grave é o delirium tremens, caracterizado por alucinações, alteração do nível de consciência e desorientação. Geralmente se instala em 1 a 3 dias e pode durar de 1 semana a 2 meses. A mortalidade nesses pacientes é de 5 a 25%.



           Tratamento



           Ambulatorial e internação domiciliar

           Cuidados gerais

           • Esclarecimento sobre SAA para o paciente e os familiares.

           • Retornos freqüentes ou visitas da equipe ao domicilio.

           • Não dirigir veículos.

           • Dieta leve ou restrita; hidratação adequada.

           • Ambiente calmo com pouca estimulação audiovisual.

           •Supervisão de familiares com encaminhamento para emergência, se necessário.



           Farmacoterapia

           • Tiamina: 300 mg/dia intramuscular, a seguir oral.

           • Sedativos (redução gradual): diazepam de 20 a 40 mg/dia via oral; clordiazepóxido de 100 a 200 mg/dia via oral; lorazepam (se hepatopatia associada) 4 a 8 mg/dia via oral.



           Internação hospitalar



           Cuidados gerais

           • Repouso absoluto, dieta leve ou jejum.

           • Monitoração da glicemia, dos eletrólitos e da hidratação.



           Farmacoterapia

           • Tiamina: 300 mg/dia intramuscular; se apresentar ataxia, confusão mental, nistagmo, aumentar a dose. A seguir, administração oral.

           • Sedativos (redução gradual): diazepam de 10 a 20 mg de hora em hora via oral; clordiazepóxido de 50 a 100 mg de hora em hora via oral; lorazepam (se hepatopatia associada) 2 a 4 mg de hora em hora via oral.

           • Se necessário, diazepam endovenoso, 10 mg em 4 minutos com retaguarda para manejo de parada respiratória.

           • Redução da medicação gradualmente.



           Complicações


            Convulsões

           • Diazepam 10 mg endovenoso nas crises



           Delirium tremens

           • Diazepam 60 mg/dia via oral.

           • Lorazepam (hepatopatia associada) 12 mg/dia via oral.

           • Associar, se necessário, haloperidol 5 mg/dia via oral ou clonidina 0,1 a 0,2 mg/dia via oral.



           Alucinose alcoólica

           • Haloperidol 5 mg/dia.



           O que não fazer

           • Hidratar indiscriminadamente.

           • Administrar glicose sem necessidade.

           • Administrar clorpromazina ou fenil-hidantoína.

           • Aplicar diazepam endovenoso sem recursos para reverter uma possível parada respiratória.

Antipsicóticos de nova geração e transtorno bipolar

Antipsicóticos de nova geração e 
transtorno bipolar

Thomas A. M. Kramer, MD
Professor Associado de Psiquiatria, 
Universidade de Chicago, Illinois.

        Os antipsicóticos de nova geração ou atípicos - medicamentos que inicialmente foram desenvolvidos para o tratamento de psicoses em geral e esquizofrenia em particular - estão sendo usados cada vez mais no tratamento de transtorno bipolar. Medicamentos como a olanzapina, que tem indicação formal para doença bipolar pela US Food and Drug Administration, a clozapina, a quetiapina e a risperidona tornaram-se importantes instrumentos para o clínico, ajudando-o a estabilizar pacientes bipolares com doença aguda, impedindo-os de adoecer novamente. Esses medicamentos podem ter eficácia além de simplesmente agentes antimaníacos, podendo ter utilidade como verdadeiros estabilizadores do humor; podem realmente ajudar a impedir as flutuações do humor que interferem nas funções social e profissional.

         É importante observar que esses medicamentos têm utilidade além da simples eficácia. Muitos são agentes antimaníacos eficazes. A clorpromazina e o haloperidol, por exemplo, têm demonstrado eficácia no tratamento da mania aguda. Não os usamos de rotina porque seu perfil de efeitos colaterais torna-os menos desejáveis e porque parecem não ter outra eficácia além de suas propriedades antimaníacas na doença bipolar. Podem tratar a mania, mas não estabilizam o humor e são ineficazes como antidepressivos. O que torna a nova geração de antipsicóticos tão potencialmente importante no tratamento da doença bipolar é que apresenta todas essas três propriedades, em maior ou menor grau, desejáveis em uma medicação para doença bipolar. Igualmente importante é o fato de que esses medicamentos geralmente são muito bem tolerados. Isso se torna crucial porque os estabilizadores do humor, em sua maior parte, são medicamentos que o paciente tomará indefinidamente. Assim, se for desagradável tomá-los, serão essencialmente ineficazes.

         Não há dúvida de que os medicamentos que bloqueiam o receptor D2 tratarão a mania aguda. O que é consideravelmente mais especulativo são as outras propriedades desses medicamentos, que os tornam úteis como estabilizadores do humor. Para se obter possíveis respostas para essa pergunta, podemos ver sua outra ação farmacodinâmica mais comum, o bloqueio dos receptores pós-sinápticos de serotonina, especificamente o receptor 5HT2A. O bloqueio desse receptor inibe uma alça invertida de feedback no córtex pré-frontal, no qual a serotonina diminui o tono dopaminérgico, de modo que, quando esses medicamentos bloqueiam esses receptores, o tono dopaminérgico aumentará no córtex pré-frontal. No tratamento de distúrbios psicóticos e, em particular, da esquizofrenia, esse efeito serve, no mínimo, para limitar o efeito colateral do embotamento cognitivo que ocorre com os bloqueadores D2, podendo até ajudar a tratar os sintomas negativos da esquizofrenia. O efeito que esses medicamentos têm em pacientes com doença bipolar é consideravelmente menos claro.

         A dopamina é um neurotransmissor crucial no córtex pré-frontal; assim, um aumento no tono dopaminérgico naquela área significa essencialmente maior atividade no córtex pré-frontal. Pensa-se que essa seja a área "executiva" do cérebro, na qual residem a tomada de decisão, o julgamento e o controle de impulsos. Se essas funções estiverem potencializadas, poderão ajudar o paciente bipolar a controlar seu comportamento de maneira útil. Semelhantemente, o aumento dessas funções também pode ajudar a tratar depressão e pode explicar por que os antipsicóticos de nova geração comprovaram ser tão úteis como potencializadores na depressão maior. Sabemos realmente que tais medicamentos aumentam a cognição em esquizofrênicos, e pensa-se atualmente que isso se deva ao aumento da atividade no córtex pré-frontal. Não há razão para acreditar que esse fato seja verdade e relação aos pacientes bipolares.

         Também é importante observar que, em sua maior parte, esses medicamentos são extremamente seguros. O risco de discinesia tardia, sempre uma preocupação maior em relação à geração mais antiga de antipsicóticos, é consideravelmente menor com esses agentes mais modernos. Até a presença de sintomas extrapiramidais, o que era virtualmente certo com os antipsicóticos de alta potência de geração mais antiga, é consideravelmente menos comum com os agentes de nova geração, provavelmente porque sua inibição da alça de feedback de serotonina - dopamina descrita acima nos permita bloquear menos receptores D2 no córtex pré-frontal e no sistema extrapiramidal, onde ocorrem os efeitos colaterais do bloqueio de D2 e onde o aumento do tono dopaminérgico causado pelo bloqueio da alça de feedback cria mais competição para os receptores de dopamina entre o medicamento e o aumento da quantidade de dopamina, causando menos bloqueio de D2. Inversamente, essa alça de feedback não opera no sistema mesolímbico - no qual acreditamos que um estado hiperdopaminérgico cause sintomas de esquizofrenia ou de doença bipolar - e então podemos bloquear mais receptores onde quisermos bloqueá-los.

         Finalmente, é importante reiterar que essa geração de antipsicóticos é muito diferente da anterior e não representa simplesmente a melhora de uma classe inteiramente nova de medicamentos. Assim sendo, precisamos ver além das indicações para a geração anterior - principalmente esquizofrenia e transtornos psicóticos - e continuar a explorar outros usos que possam ser benéficos a nossos pacientes.

NeuroPsicoNews - Sociedade Brasileira de Informações de Patologias Médicas - SBIPM - 2003

  

O conceito de inteligência e sua importância para a psiquiatria


 O conceito de inteligência e sua importância para a psiquiatria

Guilherme Rubino de Azevedo Focchi *

Cláudia Inês Scheuer **

Nota: Este trabalho foi reproduzido na íntegra o qual foi publicado pela Revista de Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência.



" Os seres inteligentes podem (...) viver mais e deixar mais descendentes (...). A inteligência ajudou de forma definitiva a sobrevivência. "

Carl Sagan, Cosmos

 

A inteligência, por certo, é função psíquica complexa; talvez por isso parece não haver conceito de inteligência universalmente aceito ( Toledo, 1995 ). Liungmann ( 1972 ) observa que o conceito de inteligência é manipulado conforme a conveniência; Mackintosh ( 1987 ) e Howe ( 1988 ) põem em dúvida o valor científico de um conceito abrangente de inteligência no estudo das habilidades mentais. Para Eysenck ( 1988 ), a inteligência é como " gravidade " ou " inércia ", variando com o tempo e com a cultura. Howard ( 1993 ) considera-a como um ou vários conceitos imbricados, trazendo informação e sob um rótulo - " inteligência " -, importando apenas se o conceito é útil ou não.

Aqui, far-se-á uma breve revisão e discussão sobre alguns conceitos de inteligência e sua importância para a psiquiatria.

Stern ( 1914 ) conceitua a inteligência como a capacidade do indivíduo para adaptar-se convenientemente a situações novas; Binet e Simon ( 1916 ) conceituam a inteligência como um conjunto de processos de pensamento que constituem a adaptação mental; para Wells ( 1917 ), a inteligência é a capacidade de combinar normas de conduta para poder atuar melhor em situações novas; para Thorndike ( 1921 ), a inteligência é a faculdade de produzir reações satisfatórias do ponto de vista de verdade e realidade.

Em comum, esses autores vêem a inteligência como a capacidade de agir e adaptar-se diante de situações novas ( Assumpção, 1994 ). Entretanto, talvez não seja necessário que o indivíduo inteligente produza reações satisfatórias em termos de verdade e realidade, pois, se assim fosse, pacientes psicóticos, que vivem uma realidade própria e nem sempre reagem " satisfatoriamente ", teriam a inteligência comprometida, o que em geral não ocorre ( Alonso-Fernandez, 1978 ).

Stoddard ( 1943 ) conceitua a inteligência como a capacidade de realizar atividades caracterizadas como difíceis, complexas e abstratas, econômicas e adaptáveis a um objetivo, de valor social e carentes de modelos, mantendo-se em circunstâncias que requerem concentração de energias e resistência diante das forças afetivas.

A realização de atividades concretas, simples e fáceis também provavelmente forneceria dados a respeito da inteligência, na medida em que o indivíduo mais inteligente por certo realizaria com maior destreza e rapidez essas atividades.

Para Goddard ( 1945 ), a inteligência é o grau de eficácia que a experiência tem para solucionar problemas presentes e prevenir os futuros.

Porém, é provável que a experiência não seja o único elemento para a solução de problemas. Por exemplo, a capacidade que o indivíduo tem para " improvisar ", independentemente da experiência adquirida, seria outro elemento importante para a solução de questões com que o indivíduo se defronta.

Segundo Wechsler ( 1958 ), a inteligência é a capacidade agregada ou global para agir intencionalmente, pensar racionalmente e lidar de modo eficaz com o meio ambiente. Por sua vez, Hayes ( 1962, in Bailey, 1976 ) avalia a inteligência como formulação de fatores e habilidades aprendidas.

É provável que a inteligência não dependa exclusivamente do aprendizado; talvez ocorra o inverso - o indivíduo inteligente aprenderia mais, e mais rápido.

Para Jaspers ( 1979 ), a inteligência é o conjunto de todas as capacidades e instrumentos que, em quaisquer realizações, são utilizáveis para uma adaptação às tarefas vitais, podendo aplicar-se para determinado fim. Outros autores conceituam a inteligência como um sistema de relações cognitivas com múltiplos níveis de significado, vinculado a fatores sociais, culturais e biológicos ( Piaget, 1983; Vigotsky, 1991; La Taille e cols., 1992; Toledo, 1995). A inteligência pode também ser vista como manifestação intencional, representada tanto pela linguagem como pelos atos, ressaltada em situações-problema da vida do sujeito e influenciada por outras funções psíquicas, como a afetividade ( Assumpção & Sprovieri, 1991). Seria uma função integrativa ( Schanck & Jona, 1993; Wadsworth, 1993; Toledo, 1995 ).

Talvez chamar a inteligência de função integrativa deva-se, antes de mais nada, à dificuldade de conceituá-la , classificando-a, conseqüentemente, como rendimento psíquico.

Logo, se função adaptativa, integrativa, essencialmente prática, determinada multifatorialmente, intencional ou relacionada ao restante do psiquismo, possivelmente o conceito de inteligência ainda será alvo de muitas discussões.

A partir do que foi exposto, a importância do conceito de inteligência para a psiquiatria pode ser abordada de diferentes formas.

Em primeiro lugar, há transtornos psiquiátricos em que a inteligência é primariamente comprometida - as deficiências mentais e as demências ( Alonso - Fernandez, 1978 ). Nas deficiências mentais, há déficit de inteligência adquirido precocemente, ao passo que nas demências há comprometimento da inteligência em indivíduos que tinham, previamente, essa função normal ( Alonso - Fernandez, 1978 ). A inteligência pode estar secundariamente comprometida em outros transtornos de personalidade, transtornos do humor e epilepsias (Alonso - Fernandez, 1978 ). Nesses casos, outras funções psíquicas seriam primariamente atingidas ( Alonso - Fernandez, 1978 ).

O desenvolvimento do conceito de inteligência talvez pudesse levar ao fomento de métodos diagnósticos e estratégias terapêuticas em psiquiatria, incluindo as farmacoterapias, já tentadas em grande número e sem sucesso real ( Assumpção, 1994 ).

Em segundo lugar, a partir do conceito de inteligência como função integrativa e determinada multifatorialmente, é possível imaginar, talvez em futuro próximo, a partir do que se sabe da inteligência do indivíduo, prever seu desenvolvimento e até mesmo sua vulnerabilidade para a doença mental.

Por fim, se a inteligência for considerada como função adaptativa, é possível imaginá-la como valioso instrumento que o paciente psiquiátrico poderia usar a seu favor, no sentido de ter maior consciência de sua morbidade, adaptar-se melhor à doença e ao meio em que vive e reagir melhor a estressores externos. Dessa forma, um paciente deprimido conseguiria, por menor que fosse sua disposição para o trabalho, encontrar novos meios de manter seu rendimento. Um paciente esquizofrênico " resistiria " melhor a suas alucinações imperativas, um ansioso, a suas obsessões, e assim por diante.

Essas são possivelmente apenas algumas aplicações do conceito de inteligência à psiquiatria, dentre muitas outras que porventura surjam paralelamente à discussão do que é inteligência.





* Psiquiatra pela FMUSP. Médico Colaborador do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo