quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Reabilitação Neuropsicológica em Lesão Cerebral Adquirida

Resumo: No presente artigo contemplaremos a reabilitação neuropsicológica em lesão cerebral, buscando conhecer quais mecanismos podem ser utilizados em função da restituição cerebral do indivíduo. O cérebro é um órgão dinâmico que se acomoda diariamente a novas informações e instruções que lhe chegam constantemente e em virtudes dessas características torna-se possível a reabilitação cerebral. Nosso objetivo é discutir sobre os mecanismos envolvidos no processo de reabilitação e Identificar aspectos considerados importantes nesse processo. Para a obtenção desses dados foram feitas pesquisas por meio bibliográficos e eletrônicos. A percepção desses pacientes a partir de um conjunto, abrangendo toda a diversidade do ser, é fundamental para a neurologia, neuropsicológica e para a psicologia, para que dessa forma às necessidades sejam atendidas e reorganizadas e esse paciente retome sua vida fazendo ou buscando fazer suas atividades triviais novamente.
Palavras-Chave: neuro-psicológia, Lesão cerebral, Reabilitação neuropsicológica, Neuropsicologia.
1. Introdução
A reabilitação neuropsicológica é citada em estudos antigos. Documentos trazem a data em 500 a.c, onde foram feitas tentativas de restituir através de tratamento alguma lesão cerebral. O cérebro é o órgão responsável por todas as atividades do corpo humano a qual através de suas sinapses e comandos são veemente desenvolvida, e esse desenvolvimento acontece também influenciado pelo ambiente, como cita Santos-monteiro:
Considerando- se que a interação de um indivíduo com o seu ambiente é feita através dos seus órgãos dos sentidos, podemos então entender que os estímulos sensoriais provenientes do ambiente exercem influência decisiva sobre o sistema nervoso, sobretudo durante o período de desenvolvimento rápido do encéfalo (2002, p.17).
Através de estudo comprovou-se que o cérebro pode ser dividido por áreas, onde cada uma é responsável por uma função, “[...] cada função cerebral estava estritamente relacionada a uma área do cérebro [...] (SANTOS-MONTEIRO, 2002, p. 17)”. Esse órgão é resultante da união entre a medula espinhal e nervos periféricos os quais formam um sistema de controle capaz de processar informações e desenvolver mecanismos de acomodação a novas situações. No entender de Pereira (2008 apud Damásio, 2008, p. 155) “o corpo contribui para o cérebro com mais do que a manutenção da vida e com mais do que os efeitos modulatórios. Contribui com um conteúdo essencial para o funcionamento da mente normal. Portanto, o cérebro é o comandante no funcionamento corporal.
Diante dessas capacidades o cérebro é reconhecido por uma característica singular, a plasticidade cerebral, que é caracterizada segundo a autora Agonilha como:   
[...] habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento [...] que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos (2011).
Ou seja, o cérebro possui uma capacidade adaptativa onde cada nova experiência do sujeito é correspondente a cada situação. Em virtude desse fato o cérebro possui uma capacidade de recuperação diante de uma lesão tornando possível sua reabilitação diante de algum trauma. A esse respeito Haase traz que:
A reabilitação é, portanto, a medida terapêutica mais importante no caso de doenças crônicas e envolve idealmente uma equipe multiprofissional, dada a complexidade das questões envolvidas. A reabilitação é um processo que envolve o trabalho colaborativo com outros profissionais, de pedagogia, fonoaudióloga, terapia ocupacional, fisioterapia, psicologia etc. (2006).  
Diante da lesão e do seu grau, a reabilitação do paciente será feita com um trabalho multiprofissional, se estendendo e aplicando-se as áreas afetadas da lesão. Para que esses sejam atingidos, é feito uma avaliação sobre o trauma que o individuo sofreu e sobre que profissionais e que técnicas podem ser utilizadas no tratamento do sujeito. “[...] o tratamento pode ser modificado ou alterado em resposta a uma informação observada. (PONTES, 2007, p. 08)”. Portanto, de acordo com o tratamento é observado também se o seu objetivo está sendo atingindo, caso não esteja, é feito uma modificação no tratamento, para que seja mais adequado ao que o paciente necessita.
2. Desenvolvimento
O cérebro é um órgão de vital importância no organismo humano. O gerenciamento e o processamento de informações, assim como a tomada de decisões pelo corpo são tarefas que um cérebro saudável e em funcionamento normal podem realizar. As sensações, os sentimentos agradáveis ou desagradáveis, as necessidades corporais, a regulação do equilíbrio, postura, a satisfação, a dor, o prazer, todas essas funções estão ligadas ao cérebro.
O processamento de informações cerebrais divide-se em diferentes regiões, cada uma abrange características específicas para o gerenciamento dos dados adquiridos ou armazenados. Santos-Monteiro (2002apud Kandel) declara que:
São clássicas as observações clínicas e anatomo-patológicas feitas em indivíduos acometidos por lesões cerebrais publicadas em 1861 por Broca, citado por Kandel et al. (1995: 631). Esse autor constatou que havia uma correlação estreita entre as áreas cerebrais lesadas e a perda de determinadas funções e particularmente da fala. Tais evidências serviram de firme suporte para a hipótese da chamada "localização funcional" no cérebro. Os defensores dessa hipótese propunham que cada função cerebral estava estritamente relacionada a uma área do cérebro e que, uma vez lesada determinada área, não mais haveria possibilidade de recuperação da função perdida. Contudo, observações clínicas de recuperação parcial de funções em pacientes com danos cerebrais já eram, desde essa época, reconhecidas. Esses dados se contrapunham portanto às hipóteses "localizacionistas" predominantes oriundas das pesquisas de Broca e, assim, os estudos sobre a recuperação de funções cerebrais foram por muito tempo ignorados. Não obstante, réplicas experimentais das evidências clínicas acima citadas foram realizadas em animais de laboratório, verificando-se finalmente que o tecido cerebral lesado pode modificar-se ao longo do tempo recuperando funções perdidas. (p. 17)
De acordo com o autor observou-se portanto que, mesmo após a lesão de uma área específica do cérebro, outra região passa a desenvolver a atividade comprometida, dessa forma, percebe-se a plasticidade cerebral, onde uma área fica incumbida de realizar a tarefa que antes pertencia à área afetada.
Para entender e atuar no processo de reabilitação é necessário observar, adaptar, examinar, e levantar dados relevantes como idade, sexo, modo de lesão, e até uso de técnicas e aparatos que auxiliem e estimulem o novo processo adaptativo, assim como traçar metas, acompanhar e promover no sujeito, alternativas que facilitem o processo de reabilitação. A precisão e o tratamento precoce aumentam as expectativas de uma reabilitação bem-sucedida.
O ponto fundamental na reabilitação deve ser o funcional, de forma a procurar centrar as ações da reabilitação nos ganhos funcionais do cliente, pois todo o treino deve refletir e ser utilizado na vida prática. O sujeito deve desenvolver estratégias para suprir o que falta, adaptar-se as novas formas de execução de tarefas corriqueiras e lidar com novas limitações. Deve ser priorizado no tratamento o que o cliente decidir, ele deve direcionar, ou demonstrar o que é importante aprender naquele momento. A prática deve ser baseada nos valores do cliente e em suas escolhas quando possível.
A facilitação do processo deve se realizar no intuito de ampliar a visão do cliente o máximo possível, dando suporte para ele examinar riscos e conseqüências, valorizar pequenas conquistas, o sucesso, mas também preparar para falhar e conseguir correr o risco. Deve-se respeitar o estilo próprio de cada um lidar com mudanças.
É importante guiar os clientes e familiares para identificação das necessidades de tratamento, para a participação da tomada de decisões em terapias e no planejamento de programas. O profissional deve ter comunicação clara e aberta, trabalhar com a verdade e prover informações, proporcionando ao indivíduo a capacidade de fazer escolhas. Torna-se necessário engajar o cliente nos seus pontos fortes, e sempre que possível mostrar o potencial e utilizar isso na sua fraqueza.
O papel principal do terapeuta é diminuir o impacto das dificuldades na vida do cliente. Quanto mais afetamos a vida do cliente mais resultados serão alcançados. As intervenções precisam ser discutidas antes de acontecerem, e todos devem concordar com os termos do trabalho. A sistemática de reabilitação, o encaminhamento, a avaliação, a identificação e negociação dos objetivos, a seleção de abordagens e métodos de intervenções, o estabelecimento de um cronograma, o estabelecimento de um plano de ações, as implantações das intervenções de reabilitação e a avaliação dos resultados devem ser passos dados acompanhados e decididos em conjunto com o terapeuta, o cliente e familiares.
A reabilitação neuropsicológica em lesão cerebral adquirida é o objetivo deste trabalho, onde se busca esclarecer formas para um melhor entendimento da neuropsicologia e das questões em pauta. De acordo com Pontes:
A neuropsicológica é uma área relativamente nova. Os avanços na área de reabilitação neuropsicológica começaram a ocorrer após a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais, período no qual os cientistas passaram a empregar esforços para compreender como os diferentes tipos de lesões influenciavam o comportamento humano e como se poderia remediá-los (2007, p. 07).
Segundo Dalgalarrondo (2008), a neuropsicologia surge para investigar as relações entre as funções psicológicas e a atividade cerebral, e se interessa pelas funções cognitivas: memória, linguagem, raciocínio, habilidades visuoespaciais, reconhecimento, capacidade de resolução de problemas; alterações como afasias(perda da linguagem), agnosias (perda da capacidade de reconhecimento), amnésias (déficits de memória) e apraxias (perda da capacidade de realizar gestos completos).
A tentativa de restabelecer a parte lesionada do cérebro vem de muitos anos atrás, e é evidente que esse foi o pontapé inicial das varias técnicas e atuações desenvolvidas atualmente.  ”As técnicas de reabilitação [...] são mais eficazes na manutenção da independência funcional, qualidade de vida e promoção do desenvolvimento [...]” (HASSE, 2006). Portanto, o tratamento do paciente é feito na tentativa de atingir e alcançar uma visão biopsicosociocultural e físico, através de estratégias, estímulos de atividade social, psicoterapia, trabalho em grupo entre outras, tornando-o suficiente para retomar sua vida e executar as tarefas que lhe são necessárias no dia-a-dia.
A reabilitação possui estratégias renovadoras no tratamento do sujeito com lesão cerebral, portanto, Pontes afirma que: “A reabilitação objetiva melhorar a qualidade de vida dos pacientes e familiares, otimizando o aproveitamento das funções total ou parcialmente preservadas por meio do ensino [...]” (2007, p. 08). Nesse tratamento é necessário a colaboração e empenho da família do doente para que este tenha ganhos positivos no seu tratamento. “A reabilitação é um processo colaborativo no qual o cliente e sua família são membros da equipe” (HAASE, 2006).
Em contra ponto a reabilitação, a plasticidade cerebral é de extrema importância por que consiste no rearranjo, como fala Agonilha: “A cada nova experiência do indivíduo, portanto, redes de neurônios são rearranjadas, outras tantas sinapses são reforçadas e múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis (2011).” Esse rearranjo é possível através de estímulos capazes de promover diferenciadas respostas e ações.
O conceito de plasticidade cerebral surgiu a partir de pesquisas feitas com ratos de laboratório, como fala Santos-Monteiro em seu artigo Estimulação psicossocial e plasticidade cerebral em desnutridos:
[...] foram realizadas em animais de laboratório, verificando-se finalmente que o tecido cerebral lesado pode modificar-se ao longo do tempo recuperando funções perdidas. A partir desses achados foi estabelecido o conceito de plasticidade cerebral que, aliás já tinha sido proposto teoricamente por Hebb em 1949, citado por Rosenzweig e Bennett, (1996: 57) definida como sendo a capacidade de o tecido cerebral modificar sua organização e função frente a distúrbios patológicos ou a lesões precoces desse órgão ou, contrariamente, em conseqüência da ação de estímulos ambientais. (2002, p.17).
Portanto, a plasticidade cerebral está estritamente ligada à reabilitação, que vinculada à experiência, a memória e o aprendizado associam-se ao fortalecimento das sinapses, possibilitando novas conexões a partir do recrutamento de neurônios adjacentes (DALGALARRONDO, 2008). A forma como o cérebro se reorganizada frente a uma lesão, sua capacidade de retomar as funções antes lesadas, são essenciais para que se fale em reabilitação atualmente. “[...] os processos adaptativos de plasticidade do sistema nervoso, dão suporte para que sejam implementadas estratégias que ajudem a recuperação psicossocial de indivíduos [...] (Santos-Monteiro, 2002, p.20)”
Nessa vertente, a reabilitação busca atingir o paciente de uma forma geral, diligenciando ser suficiente em sua recuperação. Pontes (2007, p. 08), afirma que: “[...] a reabilitação neuropsicológica é mais ampla, pois, além de almejar tratar os déficits cognitivos, objetiva também tratar as alterações de comportamento e emocionais, melhorando a qualidade de vida do paciente”. Com a reabilitação, busca-se não somente a retomada das atividades que foram prejudicadas com aquela lesão, mas também, a melhoria da qualidade de vida, como um todo, procurando manter o paciente em um bem-estar psíquico e físico.
Vale destacar que experiências negativas como estresse prolongado, depressão, ansiedades graves e duradouras podem exercer efeitos não desejados sobre a plasticidade neuronal. “A liberação de adrenalina e de glicocorticóides endógenos (como o cortisol) após o estresse pode causar dano neuronal, principalmente no córtex pré-frontal e no hipocampo (regiões intimamente relacionadas ao aprendizado e à memória).” (DALGALARRONDO, 2008, p. 51).
3. Conclusão
A reabilitação neuropsicológica é tarefa que exige dedicação e perseverança de todos os indivíduos relacionados com o processo de tratamento, sejam eles terapeutas, equipe multidisciplinar, cliente ou familiares. A reabilitação deve acontecer tendo como foco principal o sujeito em tratamento.
Um aspecto muito importante nessa caminhada é a capacidade que o cérebro tem de adaptar-se, encontrar novos caminhos para realizar a tarefa, conhecida como plasticidade cerebral.
Dentro de tudo que nos foi exposto, entende-se que a reabilitação é uma etapa muito importante na “recuperação” de quem sofreu alguma lesão a nível cerebral. Ela pode não só contribuir na melhora da qualidade de vida do afetado, como também possibilitar novas formas adaptativas de realização de tarefas, reinserindo este sujeito a uma vida mais saudável para ele e para sua família.

Alana Suelan Santos Ferreira - Graduada em Psicologia pela Faculdade Leão Sampaio. Psicóloga do Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Email: alanasuelan@hotmail.com
Alexandra Veras Sobreira - Graduada em História pela Universidade Regional do Cariri - URCA. Graduada em Psicologia pela Faculdade Leão Sampaio. Psicóloga do Centro de Referência de Assistência Social – CRAS Email: alexandra.vs@ig.com.br
Cícera Cláudia Simplício - Graduada em Psicologia pela Faculdade Leão Sampaio. Psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial – CAPS. Email: claudiasimplicio@ig.com.br

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