RAIO-X psicológico
Experiências infantis são importantes para o desenvolvimento da criança
Denise Ribeiro
Brincar de boneca já não é o passatempo predileto de muitas meninas.
Inspiradas no mundo da moda e das tecnologias, as crianças agem cada
vez mais como adultos. A sociedade capitalista colabora, de certa forma, com esse “amadurecimento precoce”. A mídia dita padrões de beleza. A publicidade vende sucesso e felicidade. Os pais no trabalho não podem acompanhar diretamente o desenvolvimento dos filhos. Porém a mídia, publicidade e capitalismo não são os únicos
responsáveis pelos “mini-adultos”. “É natural ver a criança imitar o adulto. Ela
precisa fazer isso porque é um ensaio para
o futuro”, disse a psicóloga Yvanna Aires Gadelha Sarmet. Apesar de considerar normal essa imitação, a especialista em crianças e adolescentes acredita que é necessário tomar algumas precauções em relação às novas tendências infantis.
Os excessos começam a partir do momento em que a criança deixa de fazer coisas tipicamente infantis por conta de uma preocupação com a aparência, por exemplo. “As experiências que ela teria ao brincar no parquinho de areia, subir nos brinquedos, se sujar, cair, até brigar com outras crianças, são
importantes experiências para o desenvolvimento emocional, cognitivo, motor dela”, afirmou a psicóloga.
A constante preocupação com a beleza pode ter sérias conseqüências na adolescência e na vida adulta. “Esses problemas vão desde transtornos alimentares até a depressão, o que pode gerar uma ideia suicida: não querer mais viver porque não é perfeita ”, comentou Yvanna Gadelha. Segundo ela, essas atitudes podem levar ao sentimento de rejeição na fase adulta, uma vez que a beleza não é fator primordial de sucesso.
O GRANDE VILÃO
Denise Ribeiro
Écomum ver uma criança calçada nos sapatos da mãe. Mesmo com a falta de equilíbrio, e sem preencher a totalidade do calçado, as meninas desfilam pela casa e copiam o comportamento adulto. Mas essa imitação não está só dentro de casa, como forma de brincadeira. É cada vez mais freqüente o uso de salto alto pelas pequenas. Ir ao shopping, igreja, festas, ou qualquer outro ambiente. O salto já faz parte da rotina.
Sem saber das possíveis con-
Salto alto prejudica desenvolvimento físico da criança, afirma especialista
seqüências, as meninas escolhem sandálias cada vez mais altas. E quanto mais alta, pior. Os pre- juízos variam de dores e defor- midades nos pés, problemas de coluna, como dor lombar e cifose torácica (decorrente da curvatu- ra anormal da coluna), além dos danos aos joelhos.
“O salto alto faz mal a qual- quer pessoa. Para o adulto já trás problemas, para a crian- ça que está em crescimento é pior”, comentou o ortopedista e traumatologista José Wilson do
Bomfim, membro titular da So- ciedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). Para ele o salto é um grande vilão no de- senvolvimento físico da criança.
Os incômodos, resultantes do uso destes sapatos, não são nota- dos com facilidade. Isso porque são facilmente confundidos com as “dores do crescimento”. “Ge- ralmente as crianças reclamam das dores durante a noite”, afir- mou Bomfim. Segundo ele, essas crianças, geralmente, estão mais cansadas que as outras, e costu-
mam não gostar de esportes. Se os problemas forem diagnosticados ainda na infância, menores os riscos de deformidade na fase adulta. Com atividades musculares e fisioterapia é possível reverter à situação. A dica do especialista é: não usar salto alto, principalmente na fase de crescimento. “O recomendado é um saltinho de dois centímetros, três no máximo. É um tamanho bom que não força tanto e ao mesmo tempo protege o pé”,
concluiu o ortopedista.